terça-feira, 22 de maio de 2007

Lisboa pouco amiga das crianças

O Público revela, na sua edição de hoje, que, a nível nacional, Lisboa tem a segunda pior taxa de cobertura de jardins-de-infância públicos (logo a seguir ao Algarve).

Apenas 58% das inscrições recebem uma resposta afirmativa.

O custo médio de uma mensalidade num infantário privado ronda os 300 euros.

Não admira que este seja um dos factores que empurra muitas jovens famílias da classe média para a periferia.

O Estado falhou na sua incumbência de criar uma rede pública pré-escolar, conforme dispõe a lei-quadro da educação pré-escolar aprovada em 1997.

A Câmara não pode ficar indiferente a esta situação. Todas as crianças de Lisboa devem ter acesso a jardins-de-infância públicos. É um direito que não lhes pode ser negado.

Não se pode construir uma cidade dinâmica e alegre sem jovens famílias com filhos. Lisboa necessita de ser repovoada, contrariando a tendência para a desertificação dos últimos anos.

A população de Lisboa não pode restringir-se à classe média alta (que suporta os encargos das rendas e dos preços das casa dos bairros em que ainda se pode viver em Lisboa), aos idosos (que tantas vezes vivem em casas degradadas, abandonadas pelos senhorios) e aos imigrantes (que cada vez mais vão povoando alguns bairros históricos abandonados pelos lisboetas). Resistem alguns bairros populares, mas o centro de Lisboa – e sobretudo o centro histórico – é cada vez mais uma cidade fantasma.

Presidir à Câmara de Lisboa não é tarefa para quem tem apenas sensibilidade de engenheiro (como comprova a gestão de Carmona) ou vive obcecado por túneis e pela gestão imobiliária (um verdadeiro pântano de interesses obscuros, que só poderá ser drenado por alguém incorruptível).

Os comentadores da nossa praça já proclamaram que o problema fundamental destas eleições em Lisboa serão as contas públicas, como se a política se reduzisse a um mero exercício de contabilidade (mais valia então acabar com as eleições e contratar um gestor financeiro).

Boas contas são necessárias, mas em Lisboa faltam, cada vez mais, pessoas e crianças.

Este é um assunto que deve ser uma das grandes prioridades da próxima Presidente da Câmara de Lisboa, sem demagogia e promessas mirabolantes, como as que ouvimos a Santana.

Coisas práticas e que façam toda a diferença, como esta: uma rede de jardins-de-infância públicos para todas as crianças de Lisboa.